quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

LITERATURA MARGINAL - por Jéssica Balbino



Literatura Marginal O ano da consolidação da atual cena contemporânea no país

Por Jéssica Balbino

Efervescência. Gosto dessa palavra e acredito que ela serve para resumir a atual cena literária no país. Os escritores contemporâneos somos nós, que, oriundos das periferias, criamos espaços próprios, diálogos próprios e improváveis e estamos escrevendo, de próprio punho, a nossa história. Foi em 2011 que este cenário completou sua primeira década de solidez no Brasil, com o aniversário de 10 anos do Sarau da Cooperifa, comemorado com a 4ª Mostra Cultural, em mais de duas semanas de atividades por toda periferia paulistana. Além disso, realizou várias atividades já no calendário do sarau, como o Ajoelhaço, o Poesia no Ar e a Chuva de Livros (http://youtu.be/9YVM84PZEN0?hd=1) , bem como as tradicionais sessões de cinema na laje.


Foi também o ano em que Alessandro Buzo entrou em seu 11º ano de carreira e lançou – pasmem – cinco livros, por editoras, de maneira independente e mais, solidificou o espaço da periferia no centro de São Paulo, com a última ação do ano, o Festival Suburbano Convicto, que realizou sete lançamentos numa única noite e apresentou ao mundo velhos e novos escritores, numa antologia “Poetas do Sarau Suburbano Convicto – Ritmo e Poesia” e mais, abriu espaço, democraticamente, a escritores como Emerson Alcalde, que começou no teatro e somente em 2011 lançou duas obras “(A) Massa” e “O Boneco do Marcinho”.

Aconteceu nesta noite também o anúncio: o Sarau Suburbano Convicto passa a ser semanal. Toda terça-feira. E fica a pergunta: existe público para isso?Talvez faltem saraus para tanta vontade de frequentá-los. Somente na capital paulista há pelo menos 40 saraus acontecendo em periferias. Todos eles com seus públicos crescentes, descobertas de novos autores, publicações de antologias, como a novidade do Coletivo Perifatividade, que publicou autores conhecidos e desconhecidos numa antologia, com o subtítulo: sarau – música – opinião – leitura.

E é assim mesmo, em verdadeiros quilombos que o público se forma, produz, analisa, debate, se conscientiza e parte, com a caneta, o caderno e os livros nas mãos. A guerra já foi declarada e parafraseando Alessandro Buzo “pensavam que não sabíamos ler e estamos escrevendo livros”. Somente na Cooperifa, mais de 30 livros foram lançados em 2011. No Sarau Suburbano Convicto, pelo menos um a cada mês.

Sem falar dos lançamentos não registrados em todos os outros saraus que acontecem Brasil afora. A invasão da literatura marginal em festivais literários também foi latente. Tivemos representantes na Flip em Paraty e no Flipoços em Poços de Caldas. Um deles, com o lançamento de dois livros. Sacolinha, veterano da literatura, arriscando-se para novos públicos com o “Peripécias da minha infância” e levando ao mundo o “Estação Terminal”.

Festivais feitos do povo para o povo também aconteceram, como o 1º Festival de Literatura Marginal da Praia Grande, no Sarau das Ostras. Que deixou a grande São Paulo e migrou para a baixada santista. No Distrito Federal o sarau Samambaia também cresce. Indo mais além, a produção literária também invade outros locais, como o Rio de Janeiro, com o livro “Da favela para as favelas” do repper Fiell.

No município de Cravinhos, o escritor André Ebner toca o projeto “Biblioteca na Calçada” e forma pequenos leitores, atendendo o público infantil e adolescente. Por falar em arriscar, a inovação, talento e qualidade literária de Rodrigo Ciríaco não pode passar despercebida em 2011 com o lançamento do “100 mágoas”. Prefaciado por Marcelino Freire, que circula entre saraus e debate literatura marginal com sua acidez peculiar, o livro de Ciríaco conquista pelo cuidado, pelo preparo, pelo conceito que emite ruidosamente logo no título e mais, o conto de mesmo nome, interpretado por ele na Cooperifa (http://youtu.be/GBvTnGjY8k4) e musicado no projeto Marginaliaria (http://youtu.be/wwZ_pCjm-mI) .

Do campo da música para as letras impressas, Renan Inquérito também inovou e fechou o ano com uma turnê literária para o lançamento do projeto #PoucasPalavras, que inclui um livro de bolso com poesias concretas, ilustrações do graffiteiro Mundano, fotografias de Márcio Salata e ainda um videoclipe, dirigido por Vras77, que homenageia os escritores da literatura contemporânea (http://youtu.be/m7jjltFXAaI) passando por vários locais como interior de São Paulo, Brasília e até mesmo a Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

O veterano José Sarmento também fez historia em 2011. Escritor há muito tempo, encontrou espaço nos saraus da periferia o que faltava para divulgar sua literatura e com o livro “Bixiga – um cortiço dos infernos” conquista a crítica. Escreve muito bem.

Por fim, em 2011, o anúncio do lançamento do “O Hip-Hop está morto” de Toni C., traz ao cenário ficção, reflexão e mais um capítulo escrito no grande livro que surgiu no Bronx nos anos 1970 e segue até hoje tentando ocupar espaço com seus elementos e entre eles, do que tratamos aqui: conhecimento.

No entanto, a dica de 2011 para 2012 fica para o universo feminino, que ainda precisa de expansão e crescimento neste cenário. Temos a escritora e jornalista Elizandra Souza, num belíssimo trabalho, além de outras mulheres que surgem em antologias e a poetiza Nina Silva, ao lado de Akins Kintê no livro “InCorPoros”, e Tiely Queen, com seu blog de poesias, mas, quem sabe a meta para 2012 sejam mais mulheres escritoras no nosso universo da literatura marginal. E ocupando as prateleiras de livrarias como Saraiva, Nobel, Cultura e Travessa, os livros da chamada literatura marginal, periférica, divergente, do oprimido ou qualquer que seja o nome que queiram adjetivá-la, é literatura, feita por gente – igual a gente, sim – e que cresce a cada dia, não apenas na qualidade, nas letras impressas e nos saraus que pipocam mundo afora, mas cresce ao fazer crescer seres humanos.

Digo mais. Recentemente conversei com um escritor da chamada “literatura tradicional” e ele reclamou que no Brasil as pessoas lêem pouco. Não é o que comprovo em oficinas literárias das quais participo. Em zines que surgem em todo momento. Em escritores periféricos que editam seus próprios livros e batem recordes de vendas de mão em mão. E assim, desmistificamos a lenda e mais, ocupamos espaço nas vitrines e além delas.

Temos nossos exemplares em livrarias especializadas, sites especializados, lojinhas das quebradas e nas mochilas, onde é possível se praticar o “tráfico de conhecimento”. E já em 2012, além da volta das resenhas de literatura marginal aqui no Central Hip-Hop, comemoramos a boa notícia, que chegou nesta manhã do terceiro dia útil do ano.

O escritor e criador da Cooperifa, Sérgio Vaz concorre a duas categorias “Inclusão Cultural e Destaque Cultural” no Prêmio Governador do Estado, concedido pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que premia vários segmentos culturais como artes visuais, cinema, circo, dança, inclusão cultural, música, teatro e destaque cultural. E assim seguimos, declamando e escrevendo a história das periferias brasileiras neste século XXI.

Abraços,



Jéssica Balbino

2 comentários:

  1. Vejo a união como uma matéria prima fundamental nessa caminhada, que faço questão de apreciar de perto.

    Sucesso a todos que fazem a diferença.

    Maelo
    http://www.artenomovimento.com.br/

    ResponderExcluir
  2. ja ouví muito sobre coperifa mas só ouví quro conhecer tb sou poeta e canto e componho rap, tenho o sonho de escrever alguns livros mas ... se puder -mos nos aproximar sera muito bom.

    ResponderExcluir