domingo, 7 de março de 2010

DEUSAS DO COTIDIANO, um texto em respeito às guerreiras do país

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Guerreiras da Cooperifa
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Deusas do cotidiano – Sérgio Vaz
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“De todos os hinos entoados em louvor às revoluções nos campos de batalhas, nenhum, por mais belo que seja, tem a força das canções de ninar cantada no colo das mães.”
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O nome dessas mulheres eu não sei, não lembro e nem preciso saber. São nomes comuns em meio a tantos outros espalhados por esse chão duro chamado Brasil.
Mas a maioria delas eu conheço bem, são donas de um mesmo destino: as miseráveis que roubam remédios para aliviar as angústias dos filhos. É quando a pobreza não é dor, é angústia também. São as ladras de Victor Hugo.
Donas da insustentável leveza do ser, as infantes guerreiras enfrentam a lei da gravidade. Permanecem de pé ante aos dragões comedores de sonhos que escondem na gravidade da lei.
Das trincheiras do ninho enfrentam moinhos de mós afiadas para protegerem a pança dos pequeninos. São as Quixotes de Miguel de Cervantes.
Místicas, não raro, estão sempre nuas em sentimentos. Quando precisam, cruas, esmolam com o corpo, e se postam à espera do punhal do prazer que cravam no seu ventre. È quando o prazer humilha. São as habitantes do inferno de Dante.
Rainhas de castelos de madeiras, sustentam os filhos como príncipes, e os protegem da fome, do frio, e da vida dura e cruel que insiste em bater na porta das mulheres de panela vazia. Quanto aos reis, também são os mesmos: os covardes dos vinhos da ira.
Mágicas, esses anjos se transformam em rochas, quando a vida pede grão de areia. Em flores quando rastejam, em espinhos quando protegem.
Essas mulheres são aquelas que limpam tapetes, mas não admitem serem pisadas.
Riscam papéis, limpam máquinas e consertam crianças que nascem com o sonho quebrado.
São domésticas, mas não admitem serem domesticadas.
E riem quando suam sob lágrimas e sangram o perfume da violeta impune estampada no rosto, que de rosa, não tem nada.
Sim, elas são as deusas do dia a dia.
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5 comentários:

  1. Poeta, suas palavras cheias de emoção tornam meus dias bem melhores!

    Obrigada!

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  2. Simplesmente, diz lindamente o que é triste no dia-a-dia. É a capacidade da poesia. Fraterno abraço, Ester.

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  3. Vaz, é tudo tão lindo neste texto que é difícil até comentar. Obrigada.

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  4. Dentro desse texto, saiu um outro talvez rasgando a garganta há muito tempo...
    Obrigada pela inspiração!!!!
    "Ela agora tentava amamentar,
    Mas os seios machucados, doloridos, faziam-na chorar..
    Tratava-os e oferecia e ia aguentando a dor...
    Esse alimento ela não podia negar,
    Fazia parte...
    Aliás, uma parte da entrega do amor"
    Parte da poesia- "Mãe e Pai"

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  5. Muito bacana estes pensamentos!!!
    Visite meu blog e deixe suas impressões será uma honra!
    Beijos PreTa SouL

    www.pretasoul.blogspot.com

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